quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

De volta aa Matrix

Meus dias na India estão chegando ao fim! Amanha a noite parto para Delhi, fico três dias e começo a jornada de volta. Meus sentimentos estão completamente malucos, cada hora sinto uma coisa diferente. Parte de mim esta felicíssima em voltar pra casa, a outra parte confabula mil e um planos pra trazer a Livia filha pra ca e ficar mais tempo. Acho que estou vivendo a Síndrome de Rishikesh! Essa cidade tem algo magico. Conheci varias pessoas que vieram pra ficar uma semana e estão aqui a meses, anos ate. Não sei se eh o ar fresco dos Himalayas, se eh o silencio do Ganges partindo a cidade ao meio, se eh a mistura de gente do mundo todo atras de yoga, se eh o misticismo do lugar, se sao as sincronicidades que nao param de acontecer, sei lá o que eh. O fato eh que há algo muito forte aqui.
Como hoje foi o ultimo dia de atividades, fui me despedir do Prem Baba. E lá escutei que exatamente amanha começa o Vasant Panchami / Saraswati Puja (a Maa ja tinha me falado isso mas eu nao sabia o que representava) um dia auspicioso, que marca o fechamento do inverno e o inicio do aquecimento para o verão. Eh um tempo de renovação, mais um ciclo da vida que se fecha e outro que se abre. Que privilegio começar a minha volta neste dia especial. Eh exatamente assim que me sinto, em Vasant Panchami pessoal!
Eh difícil explicar com palavras tudo o que vivi aqui, foi um tempo de muitos presentes, aprendizados, algumas dores, muitas alegrias, auto conhecimento, reencontro, encontros, choro, gargalhadas, saudade, aceitação, forca, superação, enfim... Ainda não sei ao certo o que disso tudo eu vou conseguir levar comigo. Algumas malas, algumas mascaras estou deixando pra trás, mas o que vou conseguir levar pro meu dia a dia aí na Matrix eh que eu ainda não tenho certeza. Mas uma coisa foi constante aqui e espero sentir isso pro resto da minha vida: gratidão. Gratidão por tudo e por todos! Gratidão especial por ter a filhota que eu tenho, que já nasceu com uma alma desapegada e por isso me permitiu vir sem maiores dramas. Gratidão pelo Alex e Fe, que tomaram conta dela sem que eu precisasse um só dia me preocupar com o bem estar dela. Pela minha mãe, que talvez mesmo sem entender muito bem as minhas escolhas, ta sempre por perto me dando o suporte que eu precisar. Pelos meus irmãos filhotes queridos, que eu amo loucamente, e que estão sempre, sempre, sempre me
ajudando. Gratidão pelos amigos queridos, pelos alunos que tive ate hoje e que me impulsionam a querer aprender mais, por todas as oportunidades que a vida me deu, por Deus, pelo Universo. Por ser exatamente como eu sou. Gratidão pela India por ter sido tão generosa comigo, por ter colocado no meu caminho as pessoas maravilhosas, na hora certa, por ter possibilitado o meu reencontro comigo mesma. Gratidão eterna! Isso eu vou levar comigo sempre daqui pra frente.
Em meio a toda essa confusão de sentimentos, fui terminar minha jornada em Rishikesh lá no ashram do Sivananda, com o qual eu mais me senti conectada. No satsanga, minha alegria e gratidão eram tão fortes que ate puxar um mantra sozinha eu puxei. Foi lindo... Shiva Shiva Mahadeva, Namah Shivaya Sada Shiva... meu preferido! Já estava difícil segurar a emoção, aí na hora do Arati pro Ganges o Swami
me entregou a bandeja de luz e me fez fazer o Puja. Nem preciso dizer que chorei demaaaaais. Foi muito emocionante. E eh por isso que eu acho que aqui tem algo especial. O Ganges pra mim não eh sagrado, eu não sou religiosa, mas aqui eu respirei espiritualidade, me senti em união com tudo e com todos, então nada melhor que fechar com um sincero puja de agradecimento. Mais um presente!
Este deve ser o ultimo post no blog. Quero também agradecer a todo mundo que leu, comentou... Escrever aqui foi uma terapia e a forma que eu encontrei me sentir conectada com todos aí. Muito obrigada! Vejo vocês em breve, com muitas novidades. Beijos

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Saudade, saudade!

Hoje eu acordei, as quatro e doze da manha, meio pra baixo, na verdade meio nostálgica. Estou fora a 47 dias, a saudade da minha Livia começa a passar do nível insuportável pra outro que não sei o nome. Sinto falta da Gabi, da minha mãe, dos meu filhotes queridos, de toda a família, amigas, alunas, da minha casinha, do cheiro da minha roupa de cama, de dar aula. Já estou cancada de ser turista, de ter que negociar preço, descobrir o que tem na comida, procurar lugares que no site pareciam fantaasticos e encontrar uma espelunca, esquemas pega trouxa (chakra yoga, transformational yoga, healing yoga, todos nada mais sao do que hatha yoga). E parece que estou aqui a tanto tempo que já começo a sentir saudade do que aconteceu de bom por aquii também... Hoje fui almoçar num restaurante indiano, pedi o típico PF daqui, o Thali, e me peguei pensando que daqui a pouco não terei mais isso. Ou seja, a palavra pra mim hoje eh saudosismo! Como eu aprendi muito bem aprendido aqui, vou apenas observar, não vou tentar mudar nem estar em outra sintonia, vou apenas sentir e esperar passar.
E vai passar, de um jeito ou de outro... ate porque logo mais encaro uma aula de duas horas sobre o Baghavad Gita e depois uma hora e meia de Iyengar yoga com a professora mais famosa de Rishikesh. Eh engraçado como tem gosto pra tudo nessa vida. Ontem fiz minha primeira aula com ela. Estava cheia de expectativas porque ela eh muito bem recomendada, acho que eu esperava uma loura (ela eh Suíça) linda e alta, toda alinhadinha... Na verdade eh um senhorinha linda, mas baixinha, cheinha (sem preeconceito, eh só uma descrição) e muito brava... Gente, eu tinha que segurar pra não rolar de rir, ainda bem que a Livia amiga não esta mais aqui, porque nos duas juntas não iríamos agüentar. Era cada tirada, grito, xingo que ela dava que eu horrorizava. Ate um tapa na mão de um aluno ela deu. Eu tive a infelicidade de olhar pro meu relógio pulseira e ela gritou que era pra eu não me preocupar, ela sabia a hora de acabar a aula! Ups!!! Eu fiquei de cara! Todo mundo leva numa boa, parece que eu e mais uns 3 dos 50 cinquenta alunos eramos os unicos desavisados. E realmente, ela eh muito boa tecnicamente falando. Os alinhamentos que ela deu foram sensacionais, mexi algumas partes do corpo que eu nem sabia que tinha jeito de mexer. Então valeu. Valeu também porque reinforca a minha apreciação pelo meu próprio trabalho. Penso que o que eu quero ser, onde eu quero chegar com yoga ainda esta em formação, ainda tenho muito a aprender, mas hoje sei muito bem o que não quero ser. Terei uma semana de aula com ela e, com certeza, mais casos pra contar.
Beijos a todos
Filha, saudade demais. Te amo, bjo

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Metamorfose

Há muito tempo eu deixei de acreditar em coincidências. Acredito que nada acontece por acaso, ninguém entra em nossas vidas por acaso, enfim, o acaso não existe, no meu ponto de vista. Isso começou a ficar mais forte pra mim quando minha amiga Alessia me apresentou o livro A Profecia Celestina e aqui na India Isso simplesmente se solidificou. Parece que desde que eu cheguei fui encaminhada para o lugar certo, conheci as pessoas certas, tudo na mais perfeita sincronia.
No nosso primeiro dia aqui em Rishikesh, fomos fazer uma aula de yoga num ashram de Kriya Yoga, porque a Livia pratica essa linha e porque eh perto da nossa guest house. O recepcionista, israelense, era muito simpático e a conversa fluiu. Quando dissemos que somos brasileiras ele logo falou: ahhh, então vocês conhecem o Baba. Quem? "Prem Baba, um guru brasileiro que mora metade do ano aqui, metade no Brasil. Tem muitos devotos dele por aqui, por isso a cidade esta tão cheia de brasileiros!!! Ele eh fantastico, agora entendi porque voces duas vieram ate aqui, eh pra eu levar voces la". Eu e a Livia olhamos uma pra outra com o jeitinho mineiro de ser desconfiado, já com um pouco de preconceito, preguiça, enfim... De qualquer forma, marcamos de encontrar com o menino no dia seguinte para irmos juntos aa palestra do tal Baba.
Chegando lá, realmente, tem muito brasileiro! Português pra todos os lados, inclusive durante a palestra. Mantras com instrumentos brasileiros e indianos misturados, o inconfundivel e delicioso batuque brasileiro! Entra ele, franzino, sorridente, parece um indiano. Quando ele começou a falar percebi que era mais um presente. Não sei nada sobre o trabalho dele, nunca tinha ouvido falar antes, mas o fato eh que o discurso dele foi maravilhoso, tive a sensação de que ele estava falando pra mim, que tinha escolhido o tema a dedo, só pra mim. As lagrimas (minhas, lógico, como sempre, mas também de muitas outras pessoas) simplesmente escorriam, de emoção, alegria, alivio, sei lá. Ele falou sobre o momento de desmoronamento da auto imagem que todos nos temos que passar. Eh quando tudo se quebra, nada mais
faz sentido, as portas se fecham, tudo eh sofrimento. Eh quando a mascara do falso Eu que construimos ao longo de nossas vidas tem que finalmente cair, para dar lugar ao real. O que desmorona eh o ego, o nosso jeito de fazer as coisas. Comparou esse momento aos 40 dias de Jesus no deserto. O deserto tem que ser atravessado, não adianta fugir, o Universo te põe de volta pra enfrentar a prova iniciatica. A solução eh ficar presente, no olho do furacão, observando, ate que você consiga ouvir a mensagem que essa experiência quer te dar, e então você sentira conforto e alegria, contentamento. "Tudo vai passar, não se preocupe, você vai atravessar o deserto. A questão eh como, se você vai escolher mais ou menos sofrimento. O querer aprisiona, então não queria estar em outro lugar nem queira atravessar o
deserto, apenas observe a caminhada. Esteja presente, dessa presença nascera uma nova direção, eh sempre um renascimento". E cada um de nos faz essa travessia sozinho, cada um com sua bagagem, suas marcas, cada um no seu tempo. Tem que ser assim. Terminou citando o exemplo da metamorfose da lagarta. Um homem passou um dia e, vendo a lagarta em seu casulo pequeno e apertado, imaginando seu sofrimento, resolveu ajuda-lá libertando-a. Mas a borboleta ainda não estava pronta, faltava uma asa e ela então nunca pode voar. Nos também temos que passar por toda essa metamorfose pra podermos voar alto!
Saímos de lá sem palavras, quietinhas, cada uma com seus pensamentos. Me senti muito abençoada por ter caído ali e por ter me sentido tão acolhida e em casa. Como a vida eh engraçada neh, vim parar longe na India pra escutar de um guru brasileiro palavras tão fortes. Fiquei feliz por mais uma vez não ter permitido que o ego falasse mais alto e ter ido aa palestra. Jay!!!
E ontem o primeiro presente que a India me deu foi embora. A Livia começou sua caminhada de volta pro Brasil. Soube hoje que, alguns apertos mais tarde, ela chegou bem em Delhi e embarca sábado pra nossa terrinha. Vou sentir muita falta dela aqui... dos olhares cúmplices, das gargalhadas, da companhia, mas mais importante, de ter uma alma tão boa e leve pra ajudar a digerir os acontecimentos e emoções de todo dia. Amiga, obrigada por tudo! Please, go in peace, hold your ticket and count your bags!! Rsrsrsrsrsrsrs. We are all bliss!
Kkkkkkkkkkkkkkkkk
Beijos
Filha, MQTM! Bjo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Vida de ashram

Desde o dia 27 estávamos, eu e Livia, no ashram do Vishnu Devananda, em Neeyar Dam. O lugar eh lindo, cercado por muito verde, uma represa ( cheia de crocodilos), muitas montanhas e um templo pra Kali no alto de uma delas. A viagem ate lá foi pesada, pegamos um trem terrivelmente sujo, tivemos de correr a estacao inteira com as malas nas costas para não perde-lo e ainda viramos atracão turística do trem, todo mundo queria conversar conosco. E eu estava exausta, querendo ficar quietinha no meu canto! Depois do trem, um ônibus entupido de gente e ainda mais um tuc-tuc por uma eternidade pra chegar no ashram. Com certeza eu não cheguei com o melhor humor do mundo! E chegando lá, vieram as regras, muitas regras, tudo era proibido. Fiquei ainda mais mal humorada. E de cara já nos levaram pra uma caminhada de 45 minutos, mais ou menos obrigatória, ladeira acima, para o templo de Kali. Noooooooossa, foi difícil! Eu queria matar uns 3 pelo menos. Estávamos exaustas, mas chegando lá em cima, não tem como continuar de mau humor! A lua estava linda, o ar fresco, tambor, incenso, fogo pra todo lado em homenagem a mãe Divina em seu aspecto mais bravo! Foi muito gostoso. E nos dias seguintes foi muito interesssante assistir aa transformação do nosso corpo e mente. Fomos nos acostumando as 4 horas diárias de aula, 3 de satsanga e meditação, 1 de karma yoga (caímos na venda de produtos naturais, fazíamos sucos, chás, torradas, etc), duas de palestra, mantras pra la e pra ca, dormitório com umas 100 mulheres, chinelo proibido inclusive nos banheiros e por aí vai. Quando vi, uns dois dias depois, já estava amando tudo, as aulas não eram mais tão difíceis, o corpo já tinha acostumado aos exercícios mega puxados, tinha feito muitos amigos e me sentia em casa, feliz da vida, totalmente integrada com o lugar e com a natureza (nadei quase todos os dias na represa dos crocodilos, escalei a montanha de novo pra ver o sol nascer, fiz um safari). Eh mto legal ter tempo pra sentir, perceber e entender os nossos processos. Paciencia e tolencia tem que começar com nos mesmos. Ficou muito claro pra mim que tem coisa que eu não dou conta mesmo na hora, mas não preciso falar nem fazer nada. Eh só esperar passar, e passa. So observar e deixar passar. E no final das contas me permiti também quebrar as regras que eram demais pra mim (usei o celular uma vez todo dia pra falar com a minha Livia, fugi de algumas palestras que não eram interessantes pra nadar...) mas sempre sem incomodar ninguém e nem atrapalhar a rotina do ashram. Entendi que na verdade eh só isso mesmo que eles realmente querem! O que parecia que seria insuportável se tornou delicioso!
A passagem de ano foi sensacional. O satsanga da noite começou como sempre as 20:00, mantras para todos os gostos, depois um show de música clássica indiana lindo, mas a galera bodou total, tinha gente deitada pelo hall inteiro, dormindo no chão porque não podia sair do satsanga. Aí as 22 hs eles nos levaram pra beirada da represa onde tinham preparado uma surpresa com música tecno, fogueira, fogos de artificio e chá ...kkkkk... Muito chá! A gringaiada, inclusive eu, enlouqueceu! Quase todo mundo dançou loucamente, algumas pessoas
ficaram incomodadas com a festa e a música, mas eu achei que foi muito legal da parte do ashram proporcionar uma programação mais "normal", mais flexivel, e o resultado que a energia subiu mesmo! As 23:30 eles chamaram todo mundo de volta e ficamos repetindo o mantra OM ate a virada. Foi a meditação mais forte que eu tive no ashram. Então valeu demais!
Ontem de madrugada saímos de lá, confesso que fiquei com o coração apertado, estava adorando a experiência, os amigos, as aulas, a comida, as fugidinhas... E estamos agora em Rishikesh. Chegar aqui foi uma maratona: vôo de 4 horas, um dia a toa sem rumo em Delhi, 7 horas num onibus muito lama que custamos a achar onde embarcava, com mais um atraso de 3 hs por conta de dois pneus furados no meio do nada, mais uma hora em outro ônibus mais lama ainda e um tuc-tuc num frio absurdo. Mas finalmente aqui estamos, aos pés do Himalaya, na cidade do yoga! Sao tantos cursos e aulas que nem sei por onde começar. Sao os últimos dias da Livia e daqui não devo sair ate o final do mês. A cidade eh linda, silenciosa (juro!), a mais limpa que visitei ate agora, o Ganges desce lentamente pelo centro, tem macaco pra todo lado e muito yoga! Logo terei mais coisas pra contar...
Um beijo a todos, filha um especial pra vc... Te amo.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Essas duas ultimas semanas foram intensas. Não tive muito tempo pra escrever, mas muito tempo pra pensar e sentir. O que eu mais senti aqui nesses últimos dias foi gratidão. Gratidão por ter vindo pra India na hora certa, por ter conhecido as pessoas certas e por poder, todo dia, enfrentar algumas das minhas maiores dificuldades e simplesmente seguir feliz e tranqüila. O dia mais difícil ate agora pra mim foi dia 23 de dezembro, quando nossos amigos indianos nos levaram pra conhecer a casa onde Satchidananda nasceu e viveu ate os 25 anos. No caminho, na beira da estrada, páramos pra tomar a água de uma fruta daqui, parecida com coco. A água ficava guardada num caldeirao tampado por um pano xadrez cheio de mosquito e o líquido era servido numa folha em formato de barco que ficava jogada no chão. Depois o almoço chegou embrulhado em jornal e comemos sentados no chão pintado com uma mistura de coco de vaca e água (dizem que eh antibactericida). Eu achei que fosse morrer ali mesmo.... Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Mas a doçura e o cuidado dos indianos amolece qualquer coração, então comi, achei ate gostoso, não passei mal e consegui ficar tranqüila. Mas foi difícil demais! Se eu tivesse uma varinha de condão teria desaparecido!
Ate o dia 25 eu estava em Coimbatore, e eles estavam comemorando o aniversario do Swami, então tinha palestra com um Swami fantástico, Anubhavananda e jantar todos os dias. Conheci um outro lado da India que eu nem tinha visto ainda, o das pessoas com dinheiro. Jantamos duas noites em casas diferentes, enormes, com mármore no chão, recebendo 40, 50 pessoas pra jantar ( mas ainda assim comendo com a mão e no prato de bananeira), mas fiquei com uma sensação estranha, a discrepância eh grande demais. Eh a India dual, do cheiro de lixo e de incenso, dos gurus santos e dos aproveitadores, da espiritualidade e da sobrevivência. No Natal eu e a Livia fizemos uma ceia, sanduíche de cogumelo, rsrsrsrsrs, mas no dia 25 levamos os indianos pra tomar café da manha conosco e eles levaram um bolo pra comemorar meu aniversario. Foi uma delicia, fiquei super emocionada e, apesar de estar longe das pessoas que eu amo, me senti protegida, amada e cuidada. Gratidão mais uma vez.
No dia 26 fizemos um passeio de barco chiquerrimo, ficamos as duas muito assustadas! Parecia um motel flutuante... Foi uma piada, mas pelo menos demos um tempo do trânsito e da barulheira da cidade. E o lugar era maravilhoso, Allepey.
Agora estamos em Neeyar Dam, no ashram do Sivananda. Sensacional, com uma rotina super pesada, duas aulas de yoga por dia, duas
meditações, dois satsangas. Ao redor, uma floresta e na frente um lago lindo, limpinho e cheio de crocodilos! Rsrsrsrsrsrsrsrs. Ficaremos aqui alguns dias, talvez eu siga para o ashram da Amma, e dia 5 vou para Rishikesh. Logo mando mais notícias...
Filha, saudade do seu cheirinho... Amo vc!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Um brinde ao amor, ou a falta dele!

Quando decidi vir pra India, eu estava tão fechada que planejei ficar quietinha no ashram do Satchidananda ate o final de dezembro, depois ir pra Rishikesh e continuar quietinha no ashram do Sivananda ou do Dayananda. Só conheceria monges, celibatários, sérios, formais, blá blá blá... Obviamente não era esse o plano da India pra mim. Já me movimentei muito mais do que tinha programado e ainda tem muuuuuuuito tempo pela frente.
Só tenho a agradecer por ser uma pessoa mais flexível agora e conseguir aceitar todas essas mudanças. Com isso tenho conhecido muitas pessoas interessantes com as quais aprendi muito, e isso não deixa de ser yoga (união). Aqui em Auroville eh legal porque tem gente do mundo inteiro, com interesses diversos, mas tendo em comum a busca pela consciência universal. Então as pessoas se aproximam e acabam se abrindo num determinado momento por se sentirem parte da mesma jornada. Na minha guest house somos 12. Jantamos juntos toda noite e as conversas são uma delicia! Fiquei mais próxima de dois senhores, John (inglês, uns 70 anos) e Kyle (dinamarquês, deve ter uns 55). Ontem, aproveitando a euforia gerada pela visita da cobra e do escorpiao, passamos horas depois do jantar batendo papo. John eh um ex Swami, ex discípulo e amigo particular do Osho (yoga tantrico), atual escritor, inventor (o GPS para celular eh dele) e artista. Uma figura! Debochado, bem humorado, brincalhão, brilhante, cético e desiludido com o yoga a com as pessoas (fundou um ashram em Ibiza e não deu certo). Terminou a noite contando que sua busca espiritual se intensificou por amor, ou melhor, pela falta dele.
Kyle eh professor de yoga há uns 30 anos, já passou por varias linhagens, mora hoje na Espanha e detesta, desistiu de dar aula e só da workshop. Ele eh mais místico, sereno, serio, educadíssimo, um gentleman. Terminou a noite contando que sua busca espiritual se intensificou por amor, ou melhor, pela falta dele. Eu contei minha curta trajetória no yoga, da minha filhota querida e terminei a noite... nem preciso repetir! Não dizem que procuramos uma religião pelo amor ou pela dor? Então, espiritualidade também!
O sofrimento eh inevitável - essa eh uma das 4 nobres verdades do Budismo. Mas a maneira que você lida com isso eh o que realmente importa. Só o sofrimento te faz buscar uma saída, uma luz. Então, se pensarmos nisso como uma forma de crescimento pessoal e espiritual, o sofrimento poder ser bem vindo. Ao invés de passarmos a vida inteira tentando evita-lo, correndo dele, podermos aceita-lo quando chegar, quem sabe ate observa-lo, como uma testemunha ate que passe (o John ontem tentou me convencer de que esse "esperar que passe" eh uma armadilha da mente, do ego. Pode ser que não passe, mas isso não muda nada já que temos que lembrar que o Eu Verdadeiro, o Eu que não eh eu, não sofre, eh sempre Sat Chit Ananda, existência, conhecimento, êxtase.
Apesar de concordar com o John, sigo acreditando que passa. O meu passou! E se não fosse pelo meu sofrimento de alguns meses atras eu não estaria aqui hoje, aberta, livre, plena e absolutamente feliz. Ontem, depois da meditação dentro do Matrimandir - que alias eh sensacional, lindo, silencioso, tão branco que você não consegue distinguir os contornos das paredes - fui fazer uma aula de Dance Meditation. Duvido que em outra época eu tivesse conseguido fazer a pratica com tamanha entrega! Foi surreal, mas sobre isso não vou dar detalhes porque quero fazer com vcs...duvido que tivesse feito tantas amizades, trocado tantos sorrisos, emails, mudado tanto de lugar, pego tanta carona de moto (eh o modo mais eficiente e barato de se locomover por aqui) e explorado tanto as oportunidades. .
Portanto, um brinde! Um brinde, no meu caso com água mineral gaseificada, ao amor, ou melhor, a falta dele! E que sejamos, um dia, capazes de realizar o Eu Que não sofre!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Abrindo o coração

Alguém no Brasil me disse que na India você chega onde sua forca te leva, você tem que querer, e ela então te da. Eh fato! Nada aqui eh sinalizado, explicado ou pre informado. Você tem que perguntar. E perguntar, procurar, descobrir, tudo isso exige esforço, paciencia, coragem... Eh assim que a India te ensina. Eu as vezes posso ser muito fechada, tímida, e ontem me deparei com um texto muito interessante no face do Wildsom Ribeiro. Nele o autor diz que timidez nada mais eh que uma fuga, um lugar seguro para aqueles que tem medo de errar, de se expor, de sofrer, de não agradar. Eh um disfarce para nossa inflexibilidade e perfeccionismo. Aqui não há espaço pra isso, a não ser que você queira passar de liso pela India, e eu não quero.
Agora estou em Auroville, uma espécie de cidade auto sustentável no meio da floresta em Pondecherry, leste do pais. Nela vivem seguidores de Sri Aurobindo e The Mother, os idealizadores desse lugar, que pregavam a espiritualidade acima de qualquer religião. Ela eh formada por varias pequenas comunidades, definidas de acordo com seus interesses, ecologia, agricultura, yoga, meditação, plantações orgânicas, artes, etc... O lugar eh muito legal, tem gente do mundo inteiro (mais franceses) e, apesar de muito simples, foge bastante da realidade indiana. E você tem que correr atras! Eh tudo espalhado e nem sempre bem organizado. Nesse meu processo de abertura, ao qual o Dr. Ornish chamou no livro que estou lendo, Love & Survival, de abertura do coração, baixando todas as suas defesas emocionais e se permitindo ficar vulnerável, botei a cara no mundo. Estava achando aqui meio chato, sem muitas opções. Acordei e, mesmo debaixo de chuva, sai procurando não sei o que, o que fosse pra eu achar. Achei pérolas, pessoas, cursos, aulas ( tenho só ate domingo pra fazer todos!), visitei por fora o Matrimandir, um centro de concentração maravilhoso e terminei com uma consulta com uma medica de yoga terapia. Minha intenção era so pedir uma serie de asanas, pranayamas, dieta e recomendações para "problemas femininos", para usar em projeto que ando formulando. Assim que eu entrei ela me olhou e falou: hum, por trás desse sorriso grande mora um coração partido! Qual
eh o problema? Levei um tempo pra me recuperar do impacto da frase, mas consegui responder: talvez não more mais um coração partido, mas com certeza um coração em reconstrução! Falei o que eu queria e no final ela falou: "go, go and meditate, you are on the right path." Acho que eu precisava ouvir isso! Sai feliz da vida, leve, agradecendo por cada oportunidade que estou tendo, por tudo que tenho recebido dessa terra (talvez eu pudesse passar sem as duas lagartixas que dividem o quarto comigo, rsrsrsrsrsrs).
Amanha farei um visita dentro do Matrimandir, dizem que eh maravilhoso, todo branco, com uma bola de vidro no centro que reflete a luz do sol. Nenhuma imagem, incenso, oferenda, nada, apenas silencio absoluto. Depois conto como foi...
Filha linda, querida, mamãe te ama muito. MQTM! Saudades, beijo no seu coração.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Jay Maa India!!!

Por muito tempo sonhei com essa viagem pra India. Inumeros foram os obstaculos, mas entendo que as coisas soh acontecem quando eh realmente a hora. Nao sei se eh possivel estar preparada para a India, mas eh preciso estar aberta pra receber o que vier! Pela primeira vez na minha vida, resolvi viajar sem muitos planos e aqui descobri que eles de nada adiantariam. Nao somos nos que temos planos para a India, eh Ela que tem planos para nos.
Ainda em Paris, um imprevisto:overbooking no meu voo e eu fiquei pra tras! Passei o dia todo no aeroporto esperando o proximo voo e ao chegar em Nova Delhi (ja com 1 dia de atraso - de acordo com o meu plano!) fico sabendo que minha mala foi extraviada, so chegaria no voo da noite. Nao tive alternativa a nao ser passar a noite em Delhi e pegar um voo na manha seguinte para Coimbatore. E para tal, precisei arrumar ajuda para reservar um hotel. Por alguns instantes, apavorei, senti um medo enorme, pensei em ficar no aeroporto e voltar pro Brasil, mas segui firme! Comecei a recitar o meu mantra, alias, todos os mantra, do budismo, do yoga e todos os outros que apareceram na minha cabeca. Eis que comecam os sinais de que somos o tempo todo guiados, que as pessoas que cruzam nosso caminho nao o fazem por acaso! Parei algumas pessoas que nao puderam me ajudar, ate que um senhor me abordou. O ingles dele era capenga, nao tinha os dentes da frente, a roupa era surrada, e me solta a seguinte frase: Aqui em Delhi voce eh minha convidada, vem, eu te ajudo. Antes que eu pudesse responder (ou sair correndo...) ele ja tinha pego o telefone, conversou por uns 5 minutos em Hindi e me disse que a van do hotel estava vindo me buscar. Eu tive 20 minutos pra confabular varias teorias da conspiracao, que eu seria assaltada, morta e outras coisas mais... mas meu coracao estava tranquilo e calmo e resolvi entregar. Esse senhor trabalhava na cia aerea na qual eu voaria no dia seguinte e quando vi o sobrenome dele, Prakash, igual ao meu nome espiritual, percebi que estava no caminho certo! Coincidencia?
No caminho do hotel, a realidade crua da India. O transito eh realmente um caos, a pobreza e a sujeira sao assustadoras, mas nada disso parece afetar a calma desse povo. A gentileza deles eh comovente, existe uma especie de docura, de inocencia no olhar deles que nos, a muito tempo, perdemos.
No dia seguinte, as 3 horas da manha, estava eu de volta ao aeroporto pra pegar minha mala e embarcar rumo aos bracos de Satchidananda. Fiquei uns 20 minutos tentando achar o lugar onde pegava a bagagem, em vao, ninguem conseguia me dar uma resposta certa. Ai aparece um outro funcionario da mesma cia aerea que rodou comigo por mais de uma hora, ate que tudo estivesse resolvido. No final, me disse que seu nome significa Honra. Que escolha perfeita! Ele realmente honra seu nome! Namaste!
Finalamente, cheguei a Coimbatore. O Swami Paramesh estava la pra me receber e de cara me contou que havia outra brasileira no ashram. Ashram? Que ashram? Meu primeiro choque! O ashram eh na verdade um centro de yoga, como uma escola, e nao tem todas as atividades que eu imaginei que tivesse, eh uma escola de yoga. Eh tudo muito simples, no centro da cidade, no meio do caos! Quando estava prestes a dar meu primeiro piti, aparece a tal brasileira! Ela nao eh soh brasileira, eh de BH, mora num bairro ao lado do meu, estudamos na mesma escola, frequentamos o mesmo centro de yoga, o do Govinda, mas o melhor voces nem imaginam... o nome dela eh Livia! Coincidencia? Fomos abencoadas com essa amizade aqui na India, tenho certeza que Satchidananda esta por tras disso tudo! Nossa empatia foi imediata e como ela esta aqui a mais dias, saiu me mostrando tudo por perto e me ajudou a me acalmar. Foi maravilhoso! Jamais me esquecerei desse encontro!
Ontem fomos visitar um Templo de Isha yoga (nunca tinha ouvido falar). O lugar eh mais afastado da cidade, aos pes de umas montanhas que me lembraram de Ilha Grande. Eh lindo, silencioso e antes mesmo de entrar voce sente a vibracao do lugar. Ai descobrimos que nao eh uma simples visita, tem todo um ritual. Primenro assistimos a um video falando sobre o local, depois passamos por um Templo menor, o Linga Bhairavi, que representa o Sagrado Feminino. Tem um mantra tocando o tempo todo e as pessoas fazem suas oferendas a Ela. Entao passamos para um segundo Templo, uma piscina natural subterranea com uma bola de mercurio fundido no centro. Essa bola potencializa o seu Eu e purifica o corpo. Tivemos que tomar banho antes de entrar e vestir uma tunica alaranjada (molhada porque outras mulheres ja tinham usado no dia) e entramos na agua. A sensacao eh maravilhosa, da uma leveza, uma alegria pura, e voce ja nem quer mais falar, conversar. Por fim, chegamos ao famoso Dhyana Templo. A estrutura eh como se fosse um iglu gigante feito de tijolos, no centro tem um Shiva Linga enorme e com os sete chakras energizados (o unico no mundo). Os degraus que levam ao templo sao muito altos, de forma que voce precisa pressionar todo o pe no chao, ativando todas as Nadis do corpo. Nao ha como nao sentir a energia do lugar. Nos sentamos para 15 minutos de meditacao, mas parece que foram 2! Eh uma sensacao indescritivel!
Para mim, particularmente, esse foi um processo especial. Em outras epocas, eu ja teria desistido ainda na porta quando mandaram tirar o chinelo e vi que teria que pisar no barro! Mas prometi a mim mesma que minhas dificuldades definitivamente nao me impediriam de vivenciar a India como ela quer que seja. E estou vencendo! Nem eu botei fe que conseguiria (sei que la em casa ta rolando uma aposta pra ver o quanto antes eu volto), estou me superando, de verdade.
Ontem nao consegui para de pensar na cara da minha mae e do Joao se me vissem almocando onde almocei!Eles teriam rido muito de mim, no minimo. Devia ter umas 300 pessoas no lugar, todas sentadas em mesas comunitarias, a comida era servida numa folha de bananeira, come-se com a mao direita. Os garcons passam com baldes de comida e vao jogando as colheradas na folha. Eu preferi pedir um prato a la carte (por enquanto) mas em outras epocas nem ficaria nesse restaurante! E sim, esse eh um restaurante dos bons!!!!
A comida estava deliciosa, apesar de muito apimentada, e eu percebi o quanto nada disso importa. Fiquei tao feliz por ter conseguido comer nesse meio que me emocionei, algumas lagrimas escorreram e me dei conta que estava me despedindo de mim mesma, da Luciana como eu a conheco a quase 33 anos, e sei que eh so o comeco!
Hoje voltei nesse restaurante e comi o Meal, na folha de bananeira e com a mao. Definitivamente, eh um renascimento! Agradeco ao universo por essa oportunidade.
Beijos
* Desculpem a falta de pontuacao..

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Se, no teu centro
um Paraíso não puderes encontrar,
não existe chance alguma de, algum dia,
nele entrar.

Cecília Meireles

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Clarice Lispector

segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."

Rubem Alves

terça-feira, 17 de maio de 2011

"Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva dentro de seu coração."

Dalai Lama